sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Temporariamente Fora De Serviço.

Ao que tudo indica, o verdadeiro inventor desse dispositivo de telecomunicação denominado telefone, foi o italiano Antonio Meucci, em meados de 1860, ganhando o nome de telégrafo falante. Meucci vendeu a patente para o Sr Alexander Graham Bell, que levou a fama pela invenção.
Invençãozinha fantástica! Embora, eles não tivessem ideia do que isso iria promover em nossa vida.
Eu faço parte de um micro e excluído grupo de pessoas que não gosta de telefone. Não gostamos de atender telefone, não gostamos do seu toque insistente, das ‘musiquinhas’ de espera nas linhas, dos serviços das empresas telefônicas, das centrais de relacionamento! Ou seja, detestamos a sua existência, mesmo cientes da sua vital importância. O motivo? Profundamente, só um bom terapeuta explica...Mas superficialmente, posso falar por mim e desta forma, vou lhe contar minha experiência com essa ferramenta de comunicação safada.

Nos meus tempos de moleca o telefone era artigo de luxo, como já disse aqui neste blog umas trinta e oito vezes, era tão difícil ter telefone que tinha até gente que investia todas as suas economias em linhas e vivia maravilhosamente bem de renda telefônica. Eu fazia parte da população ‘dependentes do orelhão’ e para a minha sorte eu morava próxima de uma pracinha que possuía um orelhão de esquina da Telesp. Sempre fedido, mas pelo menos não tinha aqueles anúncios de ‘mulher de tolerância’.
Meu pai olhava os classificados de domingo procurando um monte de coisa para comprar (inclusive telefone) e adivinhe quem era a pessoa responsável em ligar para obter as maiores informações? Eu, claro! Só porque eu detestava fazer isso, sobrava pra mim.
Levava umas duas dúzias de fichas, aquelas redondinhas que pesavam, no bolso do meu short e a merda é que você perdia mais tempo colocando as fichas para a linha não cair do que prestando atenção na conversa. Obviamente, eu me esquecia de perguntar um bocado de coisas e voltava umas oito vezes para finalizar a missão. Era o meu pai pegar os classificados que eu dava um jeito de pegar minha bicicleta e‘voar, voar, sumir, sumir’... Mas, normalmente essa incumbência era sempre minha. Mais tarde descobri que meu pai também odiava fazer isso...
Quando a família conseguiu comprar uma linha para a casa, foi o evento! Eu ficava rodeando o aparelho como se estivesse diante de um parente distante: ‘Já ouvi falar de você, mas não sabia que você existia mesmo’. Uma mistura de desconfiança com felicidade. Adeus orelhão fedido!
A ‘farra das boi’ acabou quando a Telesp foi privatizada, aí foi liberado linha para todo mundo.

No começo da década de noventa, vieram os aparelhos de celular, o primeiro no Brasil se eu não estou enganada foi lançado pela Motorola e era considerado o ‘fuscão’ dos aparelhos porque parecia um radio comunicador de seguranças. Enorme! Você podia chutá-lo, arremessá-lo pela janela que o máximo que podia acontecer era mandar alguém para o hospital, mas o aparelho continuava inteirasso.
Depois desta incrível invenção do telemóvel, a paz no mundo acabou.
Você sabe o que é mais desagradável de um celular? O fato de todo mundo te achar o tempo todo!
A partir daí, a sua liberdade começou a ser controlada; celulares, câmeras, chips...hehehe. E olha que tem maluco que já criou um sistema em que você consegue visualizar o sujeito do outro lado da linha. Ou seja, atender aquela ligação importante no Motel, nunca mais.
Quero deixar bem explicito aqui que isso não está relacionado com culpa no cartório, atitudes suspeitas e sim, com a privação do nosso direito constitucional de privacidade. Aí que saudade que tenho dela.
Um exemplo: Se você está em uma reunião, no banheiro ou com uma batata inteira na boca e não pode atender ao telefone quando toca, a boa educação faz com que você retorne assim que for possível, correto? Então porque é que sempre ouvimos a mesma interrogação exclamativa:
- "Ué! Eu te liguei agora e você não atendeu! Por que??"
É obvio! Se eu não atendi porque não podia, ‘caspita’!
Hoje em dia, quando alguém liga para você, parece que existe uma regra em que você deve
atendê-lo imediatamente, como se o aparelho de celular fosse um membro adicional do seu corpo.
O mais hilário de tudo isso, é eu que sou uma profissional da área de vendas e o telefone é a principal ferramenta de um vendedor, mas com a introdução do celular em nossas vidas acabou o bom senso do horário. Tem gente que já me ligou às 23 horas para tratar de assuntos que facilmente poderiam ser resolvidos na manhã seguinte.
Foi-se o tempo que só médico ficava de plantão...

Tenho outro problema muito pessoal que vou dividir com vocês. Eu não processo ao acordar. E você já reparou que o telefone sempre toca quando você resolve tirar aquela soneca ou está fazendo algo que só você pode fazer por você mesmo? Já atendi telefone sonhando e ao atender, exclamei:

- "NÃO!! EU NÃO QUERO MAMÃO!!"

Eu ainda estava sonhando com mamão, mas quem estava do outro lado da linha não, e dificilmente seus amigos ou novo namorado, conseguem entender a sua deficiência mental quando acaba de acordar.
Outra coisa que aborrece é a famosa pergunta que fazemos quando ligamos na casa de alguém que aparentemente foi acordado pelo nosso telefonema:
 
- Você estava dormindo??? Te acordei????
Putz! É claro que a criatura estava dormindo.
Para perguntas absurdas, respostas cretinas:
-"Não, não estava dormindo não... Estava apenas interagindo com o intestino delgado e grosso no banheiro"...
É constrangedor também aquele núcleo de pessoas que utilizam o aparelho celular como ‘dama de companhia’ e passam mais tempo mandando torpedo do que interagindo com os demais terráqueos ao seu redor.
É horrível ser trocado por um aparelho de celular ou pelas redes sociais...
Não, não vou citar os amados do telemarketing porque isso já esta obvio demais. É um ódio unanime, oras bolas.
Mas vou contar algo engraçado que acontece com a minha mãe, que é estrangeira e tem um nome diferente. Ela chama-se Iride e se lê exatamente como se escreve, sem mistério, mas os agentes do ‘’estaremos tentando desligar o telefone’, ao ligarem para minha casa atrás da minha mãe, pronunciam cada barbaridade.
- Por favor, gostaria de falar com a senhora Fride; Tride; Cride; Ilde; Urilde; Freak (!!!!!!)
Aí é muito fácil dizer:
- Não existe ninguém com esse nome, passar bem!
Tudo bem que ninguém tem a obrigação de acertar um nome estrangeiro, mas eles NUNCA acertaram o nome de ninguém! Eu sei o porque, mas deixa pra lá.
Não é DESESPERADOR quando você tem que ligar em uma central de relacionamento de uma empresa para resolver algum problema??
Eu costumo pedir até ajuda pra Deus, mas Ele também já desistiu.
Acabei me lembrando de uma frase de Tom Jobim sobre Nova York, que vou plagiar e incorporar ao tema: Telefone é bom, mas é uma merda. Ficar sem telefone é merda, mas é bom!
Agora se você estava pensando em me ligar e depois de ler isso desistiu, eu vou entender. Faça melhor, venha em minha casa, me escreva, me mande um telegrama, uma carta, um torpedo, uma pomba, mas não me deixe pendurada no telefone em um dia de domingo.Hehehe...

That´s all folks!

Garoto Enxaqueca.


quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

GOSTO...



Eu gosto é da Mistura...
Da diferença que não me deixa burra.
Da incerteza nada oculta.
Da safadeza desnuda e pura.

Eu gosto é do Gosto...
De uma loucura meio lúdica.
Do oculto que se faz atrás do muro.
Do puro exposto a publico.

Eu gosto é do Explicito...
Da palavra ao pé do ouvido.
Da molecagem que acaba em riso.
Da punição pelo sassarico.

Eu gosto é de um todo...
Da mistura que se transforma em novo.
Do explicito gosto da mistura.
Que se mistura ao gozo.
Eu gosto do gosto.
Eu gosto.



segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

ERA UMA VEZ...


Eu sempre acreditei e continuo acreditando que a melhor época para se viver é a atual, porque tenho a impressão de que quando vivemos de passado nos acovardamos diante do presente, sem falar que é um grande desperdício de tempo. Mas inevitavelmente há momentos em que sou bombardeada por pequenos filmes rodados em super 8 que ‘deslizam’ na minha cabeça.
A minha vida é marcada de cheiros, cores, sons, pessoas, enfim, um conjunto de tantas coisas... Mas também marcada por uma nostálgica sensação de que já vivemos em uma época onde o sentimento natural de satisfação pela vida e pelas coisas, prevalecia.
Lembro-me que morávamos em casas maiores ou mais espaçosas, onde o verde tinha mais regalia em relação ao cimento e a lajota. Os móveis e os eletrodomésticos, assim como os relacionamentos, as amizades e os empregos, eram feitos para durar.
Cada casa tinha uma árvore que exalava um cheiro peculiar, cheiro esse que misturava-se aos dos bolos ao entardecer.
O leite era entregue em garrafas de vidro na porta da sua casa, junto com o pão e acredite, ninguém os roubava ou te sacaneava.
Cada família tinha seu animal de estimação, amado, mas sem ser tratado como filho postiço com roupas de grife.
Os carros eram mais quadrados, menos equipados e não eram de plástico.
O futebol era arte, mais camisa e menos contrato.
Os mercados ficavam abertos até às 7 horas da noite de um sábado, as compras eram levadas em sacolas de papel e ninguém deixava de suprir as suas necessidades.
Não tínhamos telefone porque isso era artigo de luxo e muito menos computador e inacreditavelmente, ninguém deixava de se encontrar, de sair, de namorar... Ninguém se esquecia tanto dos seus compromissos. Passávamos mais tempo juntos nas calçadas conversando e os abraços eram mais habituais, porque ninguém tinha tanto medo de se tocar.
Nos olhávamos mais.
Monteiro Lobato não era racista, Nelson Rodrigues não era pedófilo, Hitchcock não era psicopata e ao invés de Luciano Huck, tínhamos Chacrinha.
Os fumantes eram tratados como pessoas normais.
E por falar nisso, éramos menos sarados, turbinados, menos plásticos e podíamos nos dar ao luxo de viver como pessoas reais.
Nós mulheres éramos tiradas para dançar nos bailinhos improvisados do bairro, afinal ninguém tinha tanta vergonha em se divertir, muito menos em dançar coladinho.
Éramos pedidas em namoro e pedíamos um tempo para pensar...E os homens não desistiam de você.
Pelo menos nos livramos das ombreiras, das calças saint tropez, do ultimo governante de resquício militar (João Figueiredo) e do estigma e titulo; “somos do terceiro mundo”.
Matávamos menos, tolerávamos mais.
Criança roubava... Goiaba.
Ter caráter não era diferencial e a palavra tinha mais poder que contrato e promissória.
Tínhamos menos liberdade de imprensa, de expressão, de opção e para assumirmos nossas diferenças e talvez por isso, tínhamos menos conformismo.
O politicamente correto nunca foi a nossa bandeira.
A vida não era mais fácil, nunca foi e tudo isso não faz tanto tempo assim. Mas a vida anda passando tão rápido...
Tempo era algo que sempre tivemos, mas hoje parece que dá status viver ocupado.
E alguém propagou nesses últimos anos que devemos viver intensamente todos os minutos de nossa vida. Um alguém provavelmente muito inconsequente para propagar tamanha insanidade.
Como não tínhamos essa necessidade insana, todo minuto era muito bem vindo para se viver como se podia. E como exigíamos menos da vida, ela nos devolvia... Devolvia-nos em dias menos tribulados, mais vividos.
Se a vida era mais fácil? Nunca foi...



That´s all folks.

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