domingo, 7 de agosto de 2011

DESCULPE QUALQUER COISA!



A nossa realidade é carregada de procedimentos sociais que compõe o nosso roteiro de vida, fazendo com que venhamos a agir de forma quase que robotizada para que possamos interagir, nos adequar e integrar a um grupo de pessoas. Tantas vezes, esses procedimentos incorporam o nosso padrão social e de comunicação sem que haja o menor nexo e sim, apenas para cumprir a tabelinha society. Frases ou expressões que as pessoas dizem umas as outras sem que haja qualquer significado, sentimento, dando a nítida sensação de que vivemos em um estado teatral e de total perda de sentido e tempo. Assim como aqueles e-mails que estão na caixa de saída do seu computador, que basta apenas uma conexão à internet para que ele seja‘disparado’, algumas frases são ditas de forma tão repetitiva e automática que me fez parar para perguntar o porquê da sua existência.
Quando alguém te diz, por exemplo, para 'aparecer QUALQUER hora na casa dela', sem que exista entre vocês alguma intimidade, é nítido que a tradução desta frase está ligada a qualquer coisa, menos a de um convite verdadeiro. Talvez seja uma maneira simpática criada para que pessoas pudessem se desvencilhar uma das outras sem maiores constrangimentos pelo o assunto já ter acabado. Ou possivelmente isso deve estar relacionado a herança de comportamento social ligada aos nossos antepassados, que viviam de maneira mais próxima, onde o convívio era algo mais duradouro e convidar alguém à sua casa sem que houvesse necessariamente amizade, era algo muito comum. Enfim, a expressão perpetuou em nossa vida sem que déssemos conta que o nosso perfil comportamental mudou.
“Apareça QUALQUER dia lá em casa... Me ligue QUALQUER hora. Você talvez até o faria, se soubesse aonde ela mora e se tivesse o telefone dela.
Uma coisa muito comum de acontecer quando você reencontra alguém que não vê há muito tempo e que também não é nada intima sua, é passar de imediato por uma análise precisa do seu estado físico, o que na tradução significa a análise do seu IMC, sendo que noventa e nove por cento das vezes essa análise nunca corresponde pelo seu estado real, ou seja, esta criatura sempre vai te deixar com a consciência pesada por ter comido aquelas coxinhas a mais na festa de aniversário do teu primo. Passada a fase da supervisão raio laser, vem àquela famosa e inútil pergunta:
- E aí, já casou?
E eu te pergunto; o que é que vai mudar na vida dessa criatura saber se você já casou ou não? Se você se separou e se teve 3 filhos?? Nada!
É engraçado perceber o quanto o nosso estado físico somado ao nosso estado civil tenha tanta importância para as pessoas no geral.
Pior do que uma pessoa afirmar que você está mais velho e gordo e te convidar para ir a um lugar cujo endereço você não tem, é receber um pedido de desculpas por algo que você não sabe o que aconteceu, ou melhor, se aconteceu. A expressão mais popular dita em um final de tratado comercial ou visita social é o “desculpe qualquer coisa” e todas as vezes que eu retruco indagando o porquê da desculpa, ouço sempre a mesma resposta:
- “Ah, não sei... Vai que...” Exatamente como o jargão de uma campanha publicitária. Vai que...Já sabe, né?
O ruim que isso dá brecha para você ficar desconfiado e achar que alguma coisa realmente aconteceu e desta forma, já corre para verificar se o banheiro não está inteiro mijado, se não tomaram aquela ultima cerveja importada que você camuflou na geladeira. Ou se quastiona se o omelete que te serviram no almoço não caiu no chão e foi lambido pelo cachorro.Vai que...
Alguns sociólogos acreditam que essa expressão está ligada ao nosso passado escravagista ou segundo Gabriel Perissé que é doutor em Educação pela USP e escritor: “Pedimos desculpas como gesto de boa educação, expletivo sem motivo, maneira de provar que temos boas maneiras, que somos gente boa, pobre, porém honesta? Do que sentimos culpa, afinal? Que remorso é este? E há medo? Medo do inferno?".
Uma coisa não há duvida, o excesso de pedido de desculpa é o retrato de uma auto-estima baixa, frágil que carrega uma estranha culpa embutida em nosso DNA. Tem gente que exagera tanto que até quando termina de transar deve soltar um “desculpaaaaaaa qualquerrrrrr coooooiiiisaaaaaaaaa”.
Talvez isso também possa ser excesso de senso critico, afinal antes que você pense em criticar, a pessoa já sai na frente se desculpando porque ela mesma não se permite errar. Pode ser um excesso de vaidade, onde no fundo ela só precisa ouvir de você que foi a melhor recepção e encontro ou serviço da sua vida, que ela é máster, power, mega, ultra sensacional.
Mas isso também não importa, o que está em questão aqui não é ato de desculpar-se e sim em transformar essa nobre ação em algo banalizado e sem sentido, afinal quando é realmente necessário pedir desculpas, raramente é feito.
Quantas vezes você não quis que alguém te pedisse desculpas e ela não o fez?
Se agirmos de forma natural, prezando a boa educação e a deliciosa gentileza, não há motivos para nos sentirmos devedores a alguém, sejam em tratados sociais, comerciais ou íntimos. No fundo, neste mundo, todo mundo gostaria de ser rico, famoso, bonito e aceito. E não é agradando a todos 100% das vezes que você vai conquistar essa formula da receptividade ou de aprovação.
Portanto, fica aqui o meu NÃO para toda essa baboseira social. Se não quiser uma pessoa na sua casa, não convide. Se não tiver real interesse pela história de vida de alguém, não pergunte e se perguntar, preze pela boa educação. E se desculpe sempre, mas principalmente quando realmente fizer sentido para a pessoa que está recebendo esse perdão.

That´s all folks!












Fernando Gonsalez



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